terça-feira, 18 de agosto de 2015

As várias Juanas por aí

As várias mulheres que já fomos e que somos.

Eu já morei em alguns países. Em cada um deles eu aprendi um bocado, me reinventei um bocado, eu vivi um bocado, eu pestanejei um bocado, eu sofri um bocado, eu tive dificuldades de me expressar bem pelo idioma, eu tive vontade de voltar, de ficar... e olhem que eu passei o mesmo algumas vezes no meu próprio país, o Brasil. É que quando você passa um tempo em outro lugar, você já não é a mesma no seu lugar de origem e há estranhamento- tanto na sua relação com os outros, mas também como os outros te vêem. Eu me recordo quando voltei do Japão e um amigo veio me visitar e não aceitava que eu falasse o nome de uma cidade como na língua do país e como eu estava falando há quase dois anos. Dizia que eu seria muito metida, que era para falar aportuguesado mesmo. Mas vocês conseguem perceber a dificuldade que reside nesse simples fato? É como desaprender algo que já era natural para mim. Lembro uma também uma vez que eu fui à Espanha, quando já morava na Austrália. Meus amados amigos espanhóis faziam muita piada com o meu sotaque, imitavam, diziam que eu estava com sotaque gringo e já não falava portunhol. Claro que não foi intencional, mas me machucou. E nesse mesmo momento ao enviar uma mensagem ao Brasil eu escrevi "mais pequeno"ao invés de "menor"porque já estava tentando pensar em espanhol...

Quando você é um pedaço de cada lugar que morou ou que foi especial para você, já não há mais como ser 100% brasileira, ou 90%. A cada momento você é um pouco mais de algo que não é o lugar que você cresceu. Eu também tenho uma perspectiva bem diferente e bem menos crítica do que muitos amigos que ficaram na terrinha. Quando você relativiza as coisas, é mais fácil perceber traços de similaridade em diferentes culturas e entender certos comportamentos como padrões culturais ou humanos.

Hoje eu sou a Juana que cozinha moqueca para todos os amigos estrangeiros. Eu já fui a Juana que cozinhava Brazilian hot dog porque era mais fácil... hoje eu sou a Juana que tem cabelo curto, mas a Juana da maior parte da minha vida não tolerava cabelo curto. Eu já fui a Juana que usava delineador branco e hoje sou a Juana que usa delineador preto. Eu já fui /juana/ /ruana/ /huana/ um pouco de tudo... alguns não vão acreditar, mas eu já fui em várias micarecandangas, inclusive de abadá. Hoje eu só vou em festivais que tocam indie rock.

E isso me alegra muito. Adoro ter vivido tantas experiências diferentes e a flexibilidade de me adaptar às situações, aos amigos, aos eventos... nem sempre eu consegui. às vezes, como agora, tive que correr para ver os amigos antigos, para me sentir parte, acolhida. Para ter forças de voltar e tentar construir uma nova vida. Mas o bom é ter várias famílias por aí para poder correr e abraçar e me nutrir quando necessário.

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