sábado, 10 de agosto de 2019

Orgasmos virtuais

Ao abrir a porta, o ruído que vem de dentro é inconfundível. Duas pessoas estão fazendo amor gostoso. Infelizmente não sou eu. Estou apensas chegando em casa com a minha filha, que por sinal está a um passo de entrar no templo sagrado. Eu grito para ela parar. Respiro. Tiro o casaco. Faço algum barulho e dou um tempo para os orgasmos.
Entro.
Há um casal no sofá. Mas o barulho vem do Friends na TV.

domingo, 24 de setembro de 2017

Nenhum Jason é good

Eu tive uma história com um Jason
Em certo momento ele ficou demais, presença demais, carência demais, demais.
Daí ele virou o Jason bad.
Então eu conheci outro Jason. Com ele eu não tive uma história, mas nos cruzamos na minha história. Mas por alguns meses ele teve um papel importante na minha história. Ele virou o Jason good.
O Jason good de repente virou não tão good. E o Jason bad voltou a ser um  Jason good.
Essa é a história de um ciclo de vida.

Soneto de mais uma despedida

Abro a geladeira e vejo tudo o que tem nela que te representa.
Fecho-a.
Olho pra frente.
Vejo as taças de vinho vazias. A falta de presença. O queijo de cabra nunca compartilhado. A paella que ficou sem espaço. Todos os desejos de conexão que agora não mais.
Queria tanto te dar tanto mais. Queria te mostrar mais o que há de belo em mim. Queria sugar mais de sua essência. Queria criar um suco so nosso.
Eu só queria amar. Eu amo amar. Me entregar. Me cobrir de desejos. Cobrir de encantos ao meu objeto de desejo. Sem poréns. So o estar junto no nosso momento. Sem expectativas, mas presença.

Eu amei a nossa presença/experiência.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

O meu dia do penta





Essa música tocou agora e bateu na minha memória. Ela é a música do penta brasileiro.


Eu estava morando no Japão, país sede do mundial. O Brasil foi para a final e havia uma população considerável de brasileiros residindo no Nippon. O governo japonês entrou em pânico, consigo imaginar os altos cargos, polícia, serviço secreto reunidos pensando em como evitar a baderna eminente. Decisão tomada: evitar que os brasileiros ficassem nas ruas, confiná-los na medida da legalidade. 

Assim, nós, os brasileiros mais certinhos do Japão, fomos gentilmente empurrados. Os policiais nos direcionavam para qualquer recinto fechado. Então uma reunião de emergência definiu nossa situação: vamos para um karaoke. 

Éramos uma quantidade de brazucas pós graduandos dentro de uma salinha de karaokê. Eu não sei bem o porquê, mas a única música que me lembro, que ficou gravada em minha memória, foi essa, cantada por uma brasileira pequena e alegre, da qual nunca mais tive notícias. Acho que me marcou muito a alegria que eu vi e senti naquele momento.



Eu tenho maravilhosas lembranças com meus amigos no Japão. Adorava pegar dois trens no inverno por quase uma hora só aproveitar a promoção de sorvete na Hagen Daars com a minha amiga Karen. Tenho algumas boas histórias para contar, vamos lá!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Retornar

Exílio
Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades
No livro ‘Livro Sexto’ Sophia de Mello Andersen
Eu considero que a adaptação ao nosso país é sempre a mais difícil. Uma das grandes dificuldades é porque as pessoas te tratam como se você nunca tivesse saído. Para a maioria das pessoas não importa qual era a sua rotina de onde você está vindo, não importa que horas você costumava acordar, almoçar nos últimos 3 anos, nada importa porque você voltou e agora você está no Brasil e aqui se almoça assim e pronto. O seu estômago gritando não é nada, ele deixa de ser um músculo adaptável para ser um molde engessado pela sua cultura. "Deixa de reclamar que são 14hs e o almoço ainda não saiu, voce já está aqui há duas semanas e é brasileira" me gritaram outro dia.
É esse total ignorar das experiências que você traz com você que dói. O que você faz com tudo o que viveu, aprendeu, absorveu, gostou, incorporou nos últimos 3 anos se nada importa só porque você cresceu aqui? Por quê as pessoas insistem em querer tirar de você essa parte tão importante da sua vida? É essa luta entre manter tudo o que você viveu a despeito das pessoas se esforçarem por tirá-la de você que torna o choque cultural às avessas tão difícil. Afinal, não foi só você quem mudou, mas as outras pessoas também.
Outra coisa que eu observei nas várias voltas da minha vida: há pessoas que gostam de ser sua amiga virtual. Quando você está fora elas são super presentes, de várias formas, seja por skype, email, carta comum, whatsapp. Quando você chega, elas desaparecem. Essa dinâmica eu ainda não consegui decifrar, mas talvez elas gostem da amiga aventureira e não da amiga cotidiana.
Acordo, vou pra cozinha e não tenho vontade de comer nada. Voltei para Brasília pela milésima vez, mas dessa vez voltei repentina, prenha. Comi um pote pequeno de iogurte com granola. Tento repetir minha rotina matinal da Austrália que eu amava, mas ela não é reproduzível. O iogurte é diferente, fino, aguado, pouco. A granola tem gosto de sapato. Gostava da mistura que eu criava no meu pote laranja, gasto.
Tenho urgência em escrever, mas pouca paciência para me sentar no meu quarto. Tenho que encontrar um novo lugar de inspiração em Brasilia. Desfrutar da cidade. Chegar.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Vovós e vovôs

Depois de mais de dois anos morando na Austrália, voltei à Europa. Eu ia dizer que era meu continente preferido, mas daí pensei que certamente é a América do Sul. Daí eu ia dizer que era o segundo preferido, mas me lembrei da África. Mas é um lugar que eu tenho muita admiração.

No primeiro dia, me coloquei na janela, como as namoradeiras das esculturas tradicionais mineiras e goianas. Observava tudo com atenção. Então me admirei ao ver uma senhora idosa passando. Essa senhora se vestia como idosa, assumia seus cabelos brancos, andava um pouco curvada e carregava compras. É o estereótipo das avós de toda a vida. Ao me surpreender com essa visão, percebi que ela era rara na minha vida atual. Então percebi que na Austrália há poucas vózinhas. Há poucas mulheres idosas que se assumem como tal, que não tentam rejuvenescer. De fato, acho que é uma epidemia mundial. Por quê será que há mais avós na Espanha?

terça-feira, 18 de agosto de 2015

As várias Juanas por aí

As várias mulheres que já fomos e que somos.

Eu já morei em alguns países. Em cada um deles eu aprendi um bocado, me reinventei um bocado, eu vivi um bocado, eu pestanejei um bocado, eu sofri um bocado, eu tive dificuldades de me expressar bem pelo idioma, eu tive vontade de voltar, de ficar... e olhem que eu passei o mesmo algumas vezes no meu próprio país, o Brasil. É que quando você passa um tempo em outro lugar, você já não é a mesma no seu lugar de origem e há estranhamento- tanto na sua relação com os outros, mas também como os outros te vêem. Eu me recordo quando voltei do Japão e um amigo veio me visitar e não aceitava que eu falasse o nome de uma cidade como na língua do país e como eu estava falando há quase dois anos. Dizia que eu seria muito metida, que era para falar aportuguesado mesmo. Mas vocês conseguem perceber a dificuldade que reside nesse simples fato? É como desaprender algo que já era natural para mim. Lembro uma também uma vez que eu fui à Espanha, quando já morava na Austrália. Meus amados amigos espanhóis faziam muita piada com o meu sotaque, imitavam, diziam que eu estava com sotaque gringo e já não falava portunhol. Claro que não foi intencional, mas me machucou. E nesse mesmo momento ao enviar uma mensagem ao Brasil eu escrevi "mais pequeno"ao invés de "menor"porque já estava tentando pensar em espanhol...

Quando você é um pedaço de cada lugar que morou ou que foi especial para você, já não há mais como ser 100% brasileira, ou 90%. A cada momento você é um pouco mais de algo que não é o lugar que você cresceu. Eu também tenho uma perspectiva bem diferente e bem menos crítica do que muitos amigos que ficaram na terrinha. Quando você relativiza as coisas, é mais fácil perceber traços de similaridade em diferentes culturas e entender certos comportamentos como padrões culturais ou humanos.

Hoje eu sou a Juana que cozinha moqueca para todos os amigos estrangeiros. Eu já fui a Juana que cozinhava Brazilian hot dog porque era mais fácil... hoje eu sou a Juana que tem cabelo curto, mas a Juana da maior parte da minha vida não tolerava cabelo curto. Eu já fui a Juana que usava delineador branco e hoje sou a Juana que usa delineador preto. Eu já fui /juana/ /ruana/ /huana/ um pouco de tudo... alguns não vão acreditar, mas eu já fui em várias micarecandangas, inclusive de abadá. Hoje eu só vou em festivais que tocam indie rock.

E isso me alegra muito. Adoro ter vivido tantas experiências diferentes e a flexibilidade de me adaptar às situações, aos amigos, aos eventos... nem sempre eu consegui. às vezes, como agora, tive que correr para ver os amigos antigos, para me sentir parte, acolhida. Para ter forças de voltar e tentar construir uma nova vida. Mas o bom é ter várias famílias por aí para poder correr e abraçar e me nutrir quando necessário.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Os primeiros namoros

Essa é uma história da minha adolescência.

Em Brasília, moramos em quadras, em blocos, em portarias, em andares. Na minha época, tínhamos os amigos que moravam no mesmo andar, ou na mesma portaria, etc... quanto menos a distância geográfica, maiores eram os laços de amizade. Acho que também os nossos pais conheciam melhor os pais dos amigos mais próximos, então era mais fácil conseguir autorização para irmos ao clube juntos, ou a um almoço de família em alguma chácara. hoje em dia isso mudou um pouco porque há muitas cercas entre os blocos, entre as pessoas, e os vídeo games ficaram mais atrativos do que as pessoas.

Eu tinha duas melhores amigas: uma morava no apartamento da frente, e outra morava em cima dela, no andar de cima. Tínhamos sorte porque éramos muitos da mesma idade na nossa portaria... a amiga do andar de cima sempre tinha refrigerante e bolo no lanche da tarde, então eu sempre tentava chegar lá por essa hora, já que lá em casa nem o conceito de lanche existia... às vezes dava certo. Tinha também uma amiga que morava em cima de mim, mas apesar de sempre andarmos juntas, meu pai meio que tinha proibido a amizade. Claro que eu nunca segui a proibição, mas agora penso que meu pai tinha uma intuição danada.

Porque a história é que depois de termos passado a fase das brincadeiras de barbie, depois de nos juntarmos para dançar as paquitas da Xuxa (eu era a Sorvetão), chegou a fase de nos juntarmos para dançar música lenta com os meninos. As festas de fim de semana não eram suficientes, assim quando um pai viajava, nos juntávamos durante a semana mesmo para paquerar. Cada uma tinha um par fixo que sempre dançava, e as que não tinham ficavam ditando dicadinhas do coração, que eram poemas profundos como: "Se viver é amar, se amar é viver, vivo porque amo você".

Meu par dessa época mandou muito mal ao me pedir em namoro e acabou recebendo um não como resposta... assim, minha amigas foram passando para a próxima fase dos namoros sérios e eu fui ficando até que esse garoto, que era o mais interessante da quadra se interessou por mim.

Nessa época, descíamos todos os dias para "brincar" em baixo do bloco. Minhas amigas tinham que subir às 22hs, eu não tinha horário fixo, o que me fazia sentir mais moderna... mas como eu disse acima, meus pais sempre tiveram uma intuição danada. No dia marcado para eu ficar com o tal garoto, minha mãe mandou eu subir às 21hs. Tá brincando? Tentei argumentar mas naquele dia não tinha muita discussão. Fala sério. Bom, eu desço com a amiga do andar de cima, ela vai encontrar seu namorado e eu meu garoto, e no caminho o namorado termina o relacionamento. Fala sério, logo hoje? E assim as leis de murphy foram me afastando do meu objetivo da noite.

Marcamos para um próximo dia. Mas o dia nunca chegou, porque a menina que morava em cima de mim entrou no meio da história e me disse que ele não queria mais ficar comigo e eu acreditei. Na festa seguinte ela falou que o irmão dele queria ficar comigo, e eu acreditei. E o pior é que eu demorei esses anos todos para perceber a armação...

Mas foram dias divertidos.


quarta-feira, 24 de junho de 2015

Me separei e abri o depósito

Quando eu estive na minha cidade natal muitas coisas aconteceram. Entre elas o fim definitivo de um relacionamento que me ocupou demais. Não estou falando de tempo, mas de emoções, de planos, de sentimentos, de rumo, de tudo... eu me perdi dentro dele. Já não sabia mais quem eu era e o que valia a pena. Era uma coisa de afirmar e reafirmar os meus valores, mas quais eram eles mesmo?

Nesse contexto, fui visitar o depósito onde tínhamos guardado a nossa casa.
Na oportunidade de me reencontrar onde eu nasci, havia um depósito. E tinha aquela coisa que eu tinha que fazer, que era abrir e achar um rumo para o depósito com as minhas/nossas coisas que estavam estocadas para o momento planejado quando voltaríamos comigo grávida para ter nosso primeiro filho(a). É, planos demais para duas pessoas perdidas demais.

Eu não podia dirigir porque tinha acabado de passar por uma cirurgia de 6 horas. A cirurgia, por sinal, foi uma limpeza dele. Foi uma faxina completa, todos os resquícios que me impediam, que impediam minha barriga de crescer, apesar de estarmos tentando engravidar há um ano.

Convenci um querido, amado, idolatrado amigo a ir comigo. Eu tinha uma chave, mas nunca havia lá estado antes. Abrindo o depósito... depósito cheio.... cheio de tudo. Abri um repositório de emoções. Havia terno caído no chão. Havia um armário de bebê.

Peguei algumas caixas. Outras deixei. Algo há que se deixar do tempo que passamos juntos.
Mas eu fechei a porta e tranquei.


domingo, 10 de maio de 2015

A poem about me


When I was 23 I married this guy and moved to Japan
When I was 24 I learned Japanese calligraphy
When I was 25 I started a great great job
When I was 26 I went through a really rough time
When I was 27 I travelled around the world by myself
When I was 28 I moved to Africa
When I was 29 I travelled to the Canary Islands
When I was 30 I celebrated with the first rok'n'roll party in Praia, Cape Verde
When I was 31 I celebrated my birthday crashing at someone else's bday party at a beach in Spain
When I was 32  I had a big birthday party with my younger brother in Brasilia
When I was 33 I celebrated with the best boyfriend I have ever had
When I was 34 I moved to Australia
When I was 35 I went through another rough time
When I was 36 I found home

sábado, 9 de maio de 2015

É o toque que revela o encontro

Nesses últimos dias, estou me sentindo muito inspirada de manhã, e tem saído umas prosas interessantes do meu tinteiro.
Aqui vai uma



Ah Chris
What do you want?
Multiple, endless dates
Until you are sure of something inside of you?

Don't you realise that this is about
Your past fears?
That we can never be sure
Of what's ahead of us?

It does not mind
How many dates we have
Independently of how many
Questions you make me

It isn't until the moment you
Touch me
That things will start unfolding
That the present moment
Will be more important than

Any other glimpse of
Thought
That is so well hidden inside

Because touching
Someone else
Is the real truth

With desire
Curiosity
Exploring

Each other's curves
Expressions of life
Marked in the body
Truth Unfolds

It is trough the body
That we truly perceive
Who the other person is

It is through
Someone else's movement
That we truly identify
Scars, passion
Life lived

How open this person was
To share
Him/herself with the world
How their bodies have interacted
With the present moment

It's only when you touch
That the body shows
The balance
The movement

That you are really sure
If the movement
Align with yours

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Quando a sua melhor companhia é uma taça de vinho

São 19:16 e eu estou um pouco bêbada.
Mas 19:16 em sunshine coast é como se já fosse meia noite no Brasil. Daqui a pouco toda a cidade está na cama.
Enfim, eu tive uma semana difícil. Tá que foi tão difícil na terça que ontem eu tirei o dia para mim e encontrei dois amigos em cafés e de manhã eu fui para uma praia nova, que por sinal é linda de morrer e virou minha praia preferida- Buddina. Não tem quase ninguém lá. Aliás, uma das histórias do café é bem legal. Marquei de tomar café com esse cara que mora no mesmo bairro que eu e é um viajante, e chegando lá morremos de rir, depois de um pouco de timidez ao perceber que já nos conhecíamos... numa dessas baladas da vida. Mas o cara tem uma história de vida bem parecida com a minha e valeu o papo mais uma vez.
Mas hoje eu tinha marcado um cinema com um cara que se apresentou e parecia muito interessado, mas que eu não conhecia pessoalmente. A situação era diferente e nova. Eu fui ao encontro, mas estava bem desanimada certa de que ele seria feio, nerd, essas coisas. Ele marcou o encontro num bar que não mais existia, enquanto eu procurava, encontrei uma amiga e fiquei batendo papo durante o qual descobri que o ex bar tinha virado outro bar que também já tinha fechado. Quando eu cheguei ao ponto de encontro, vi o cara mais lindo do mundo, mas como eu estava muito atrasada ele se levantou e foi embora. Eu sei, não faz sentido, mas o cara é australiano. Bem, voltei para casa e abri uma garrafa de vinho branco. E também comi todo o queijo de cabra especial que eu comprei numa dessas casas de coisas importadas. O queijo era uma delícia.
Daí hoje de manhã eu recebi uma caixinha do Brasil com um presente de aniversário da minha mãe e da minha madrinha, muito linda. Eu postei no facebook achando que minha mãe ficaria feliz, mas ela ficou triste porque eu mostrei a caixa ao invés do presente. Refletindo agora eu acho que hoje o dia não deu muito certo.
Mas o que eu queria falar é que eu fiquei muito feliz com o presente. Eu recebi no início da semana outro presente atrasado de aniversário: um video que meus amigos gravaram exclusivamente para mim e para o meu aniversário, na Espanha. A Ilaria estava na Espanha. Eu queria ir a Espanha encontrar com ela e meu amado Ruben, mas senti que a viagem era muito longa e que eu ainda preciso me recuperar. Mas eles jantaram no dia do meu aniversário e gravaram um vídeo. E eu chorei muito ao ver o vídeo, foi o presente mais lindo que eu recebi esse ano. O Ruben ficou olhando diretamente para a câmara e seu olhar me emociona muito. Ele é a pessoa mais linda e íntegra que eu já tive o prazer de conhecer. Tudo o que eu fiz na vida valeu a pena só pela oportunidade de conhecê-lo e também a minha querida Ilaria. Eles são meus irmãos de alma. Então às vezes as coisas mais simples são as que mais te emocionam.

E essa é a trilha sonora da noite:
https://www.youtube.com/watch?v=cOlVlxLMSDo

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Mais de Sydney

Dia 05:
Domingo de páscoa. Dia da kaka.
Passei o dia com a Kaka e sua família, que é uma amiga de absolutamente todos os meus amigos de Brasília, frequentamos a UnB na mesma época, temos quase o mesmo título universitário, mas por lá não nos conhecemos. Quando comentei com as pessoas que me mudaria para a Austrália, todos começaram a dizer: Ah, a Kaka está lá! E eu respondia: Mas quem é Kaka?
Claro que os amigos nos colocaram em contato e nos encontramos pessoalmente pela primeira vez ano passado, quando tomamos um café em Mooloolaba. Ela mora em Sydney, mas seus sogros moram em Sunshine Coast (!!!) e ela veio visitá-los. Ao chegar ao café, uma surpresa! Tinha um pequeno em seu colo, ela teve o pequeno Samuca assim, enquanto esperávamos para nos conhecer.
Kaka e seu simpaticíssimo marido Tim compraram uma casa há pouco. No caminho para a nossa balado do dia, explorar e almoçar no bairro vietnamita, paramos em sua casa para eu conhecê-la (claro que a Kaka é tão educada que saiu da sua casa para me buscar, para voltar à sua casa, para irmos do outro lado do mundo, para depois me deixarem novamente em casa). A casa é muito, muito legal e tem um lindo quarto de visitas que espero usar no futuro (rss).
O bairro do dia chama-se Cabramatta, que é um bairro mais periférico, de imigrantes. Como bons hóspedes, eles me contaram toda a história: era ali que as drogas rolavam soltas em tempos antigos, daí o governo deu uma revitalizada e tem até uma série de TV legal sobre o assunto, da CBS. Enfim, chegamos ao Vietnã. Absolutamente todas as pessoas são orientais, aquela confusão e muvuca que estamos acostumados no Brasil e que eu adoro. Escolhemos um restaurante e eu pratico o meu principal esporte do dia- comer como se não houvesse amanhã... adoro comida vietnamita! Que páscoa gostosa!
Na volta, pegamos o Marky, cachorro da Cecília e Andrej para passear na bahía de Rose Bay, foi um fim de tarde muito gostoso. A principal descoberta do dia é que Samuca é um tagarela, foi o que mais falou durante o dia!

Dia 06:
Lavei roupa. Aqui os edifícios têm varais coletivos, mas esse em especial tem pregadores de roupa coletivos, o que me pregou uma peça abrindo todos os armários da Cecília procurando. Confesso que lavar roupa é um dos meus prazeres Amelie Poulin, faço com todo o prazer. Adoro colocar roupa na máquina, escolher sabão e amaciantes cheirosos, que permaneçam na roupa após a exposição ao sol, escolher o melhor plano de lavagem, tirar tudo limpinho, cheiroso e estender... peguei isso da minha mãe.
Hoje é o dia Karen.
Eu acordei cedo e antes do que qualquer outro membro da casa, então resolvi me adiantar para conhecer a Art Gallery of New South Wales, que foi recomendadíssima. Peguei o ferry às 10:08 nesses 10 minutos de pura beleza em direção à estação de Circular Quay. O ferry é um super atalho para chegar à cidade, e nele podemos ver todos os ícones da cidade desde o mar, sentindo o vento bater no rosto, a fricção do barco com o mar, sentir o corpo saltitar junto com o mar... A estação é vizinha da Opera House, do centro financeiro da Austrália, da parte mais histórica chamada The Rocks, é central para conhecer a cidade. A mesma viagem demora uma hora de ônibus! O ferry custa o dobro do preço, mas vale muito a pena.

Caminho vagarosa e atentamente, chego ao jardim botânico, que cruzo para chegar ao museu. O Royal Botanical Gardens tem vista para a famosa bahía de Sydney e é bem no centro da cidade. Uma das esquinas é a Opera House. O museu tem quatro andares, mas fui advertida de que o mais interessante é o subsolo, onde estão as obras de arte aborígenes, que de fato são surpreendentes. Estão entre as minhas pinturas preferidas de todo o mundo.
Depois do museu, encontro minha amiga Karen para uma outra aventura gastronômica. Ela é mestre em encontrar os lugares mais incríveis para comer e ainda estamos na celebração do seu batismo. Almoçamos Dim Sum, que é minha comida preferida do mundo, um banquete de Dim Sum com uma oriental (a Karen é de Singapura) que sabe escolher os melhores... ahhhhhhhhhhh... Hoje descobri que o banquete de Dim Sum se chama Yam Cha, que é um termo que eu espero nunca mais esquecer e que a internet me diz que a tradução literal é tocar o coração. E como toca não só o coração como a barriga.  Agora sei o que eu tenho que buscar em qualquer lugar da Ásia que eu for.
Aqui está a definição do restaurante que fomos:
The word “Yum Cha” means to drink tea. The traditional custom originated in Southern China, where people would go to a “Tea House” to drink tea.
Chinese tea is known for it’s health giving qualities, in particular as being beneficial for digestion as it dissolves the fats from the food.
The custom has changed over time to become a ritual where friends meet at a restaurant for Yum Cha, usually in the morning or lunchtime. At Yum Cha, dim sim ladies present dishes on the trolleys. Customers then select their preferred dishes from the trolleys.
Dim Sim, literally translated, means “To Touch someone’s Heart”. The custom has developed over centuries when housewives would serve delicate light snacks to visitors and friends to demonstrate their hospitality and cooking abilities.
Depois do Yam Cha fomos a uma das chocolaterias mais famosas da Austrália, Koko Black, depois para um restaurante japonês na ChinaTown, quando Cecília e Andrej me buscaram para... jantar num grego! Claro que meu estômago não dava mais conta, então os acompanhei com um vinho grego, mas fiquei com água na boca. Hoje foi um dia especial porque eu adoro ser levada por prazeres gastronômicos sem esforço, mas na fluidez da sabedoria da outra pessoa. Adoro ser levada pelos prazeres musicais, quando alguém me apresenta melodias antes ignoradas por mim, mas que agora tocam meu coração. Adoro ser surpreendida. Acho que por isso gostei tanto do meu namorado Luiz.

Dia 07
Foi um dia tranquilo, catching up with work. Afinal, eu também tenho que trabalhar, embora tenha a benção de poder trabalhar de onde quiser.
Acordei e li. Depois escrevi. Depois refleti. Depois descansei. Depois escrevi um pouco mais. Foi mais um dia de chuva e frio...
No intervalo, fui a um lugar maravilhoso chamado Watsons Bay, é uma parada adiante de barca. Adoro cidades que usam barcos como meio de transporte.
Watsons Bay é um vilarejo histórico que foi o primeiro povoado de pescadores na Austrália. De um lado, uma das baías magníficas de Sydney. Do outro, penhascos encantadores, caminhadas entre os penhascos, caminhadas que levam a praias de nudismo, restaurantes na beira da praia, tudo o que você pode desejar. Tudo em um.
Fiquei inspirada e à noite cozinhei uma moqueca para a família. Ficou gostosa!

Dia 08:
Uau!!!!!!! Esse dia foi lonnnnnnnnnnngo, mas muito bom!
Acho que vou precisar de alguns dias para descrevê-lo... alguns dias duram mais de um dia, assim você vive mais de um dia em um dia, enquanto em outros dias, parece que você não viveu dia nenhum e deveria dar o rewind e vivê-lo novamente... esse dia valeu por vários dias e ainda estou tentando lembrar como ele começou. Eu lembro que ele terminou num show maravilhoso num pub maravilhoso recomendado pela Erin. Sei que virei fã do duo, que vou tentar encontrar o nome em alguma foto. Assim, boa ideia, esse dia vai ficar em imagens porque agora eu lembro que eu andei por todos os lados de Sydney, norte, sul, leste, oeste, sudoeste, noroeste... de barco, a pé, bicicleta, todos os meios disponíveis.

That Red Head (duo incrível) no Corridor, bairro de Newtown
Dia 09:
Acordei com meu corpo pedindo arrego, doente, exagerei ontem e ainda estou convalescente... 
Mas tinha uma reunião agendada, então tive que tirar forças e pegar ferry mais ônibus mais caminhar para chegar à minha reunião, mas que por sorte foi muitíssimo produtiva. Excelente!
Depois encontrei minha amiga Athene, que morou comigo no Kibbutz Ketura em Israel. Isso foi em 2006, então não nos víamos há exatos 9 anos, foi muito interessante revê-la e conhecer seus dois pequenos... mas foi um encontro rápido, mães de família nunca têm muito tempo e eu também não tinha muita energia para trazer ao encontro.

Dia 10 e 11:
São os dois últimos dias em Sydney e o ápice foi o show do Counting Crows no teatro estadual... que edifício lindo, super bem preservado. Só me surpreende que esteja disponível para um show de rock! O bom da Austrália é que o público desses shows sempre é menor, então rapidamente eu e Claire nos enfiamos na primeira fileira e ficamos tocando os músicos durante o show, tiramos fotos super engraçadas, trocamos piadas com o carismático vocalista.... é isso folks! Agora que venham as crônicas locais!

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Diário de Sydney- dia 1 ao 4

Sydney é maravilhosa, é uma alegria estar aqui depois de muitos sonhos.

Dia 1:
Estou na casa da minha nova prima Cecília. É nova porque ela é prima dos meus meio irmãos e logo que ela se mudou para a Austrália resolvemos que seríamos primas. E assim é.
Sua mãe está a visitando do Brasil e as duas são umas fofas. É uma delícia compartir dias com elas. Começamos esse primeiro dia na correria para chegar ao consulado em tempo para a minha entrevista de renovação do passaporte, mas mesmo assim elas acharam tempo para me darem as boas vindas e os melhores desejos.
Depois do consulado e de uma escapada à Uniclo, minha loja de roupas japonesa preferida, encontramos Andrej, marido da Cecília para almoçar num... japonês! Delícias a parte, foi um dia especial onde tive a emoção de ver, tocar, cheirar, viver a Opera House, esse edifício mais chique do mundo, e as piscinas de Bondi. Andei por todos os lados, tirei fotos de todos os ângulos, saltitei, tudo o que tinha direito. A Opera House na verdade é um dos em um, são dois edifícios inspirados em conchas. Eu nunca tinha pensado nisso, mas depois que vi a placa achei pura concha. Quanto às piscinas, descobri que na verdade quase toda praia aqui tem piscina, é um luxo só.

À noite, tínhamos ótimas intenções. Coloquei meu vestido novo, rendado. Cecília me emprestou um salto. Coloquei uma super maquiagem. Fomos no pub perto de casa, mas não havia ninguém. Não tínhamos muita certeza onde ir em seguida, daí me lembrei que alguém havia me sugerido o bairro The Rocks. Perdidas como duas brasileiras num país estranho, demos algumas voltas para achar um estacionamento permitido. Entramos um pub com duas pistas de dança no segundo andar. Escuto Zouk e vejo as pessoas dançando como em Cabo Verde e então 5 anos de desejo reprimido consomem meu corpo e eu quero, exijo um africano para dançar comigo. Rapidamente localizo um com meu faro apurado, que logo me chama para dançar. De início, nega a sua nacionalidade. Sou francês, me diz. Completa: sou francês, canadense e australiano. OK, respondo eu sem questioná-lo. Ele então me pergunta de onde eu sou. Brasil, respondo. Ele me questiona: só isso? Rio e respondo que é suficiente, o Brasil é rico demais. Ele contra argumenta que eu deveria ser uma cidadã do mundo. Rio internamente lembrando do adjetivo que meus amigos já me impuseram. Respondo que eu sou cidadã do mundo, mas que não nego as minhas origens. Então ele finalmente confessa: sou francês, mas de uma colônia francesa na África. Eu sabia, respondo. Ele diz: sou do Gabão.
A dança acaba e eu me despeço, com seu cartão na mão. Ele é treinador de futebol e esteve na copa do mundo ano passado. Ele me pergunta: és casada? Respondo negativamente e ele fecha a noite pergutando se pode colocar um anel em meu dedo. E finalmente eu me recordo porque não sinto falta da África.

Dia 2:
Estou sentada no café da Guylian, marca de chocolate belga que eu adoro, tomando chocolate quente. Delírio de prazer.
Acabei de sair da lojinha do museu de arte contemporânea e não tive vontade de comprar nada. Sorte.
A missão agora é achar um café super recomendado para comer um scoone irlandês e logo em seguida seguir para a minha livraria preferida do Japão, que tem uma filial em Sydney. A livraria fecha às 19hs então eu quero chegar lá antes das 18hs para dar tempo de cheirar meus livros preferidos. São 16hs, há 1 km de distância, e um chocolate líquido guylian na barriga. Desejemos.
Depois da livraria, do scoone e do chocolate quente, tenho uma aula de biodanza.
PS post factum-
Eu caminhei na direção errada da George St, cheguei no café irlandês depois que fechou, cheguei antes das 18hs na livraria, mas ainda assim não tive tempo suficiente. Ela é maior do que minha imaginação deu conta.

Dia 3:
Perfeito.
Acordei às 10:30, o cansaço da caminhada bateu no meu corpo pós cirúrgico. Mas pude descansar.
Estou na famosa praia de Manly, na linda casa da minha maravilhosa amiga Claire.
Chuva.
Vamos almoçar cinco mulheres magníficas numa das minhas cervejarias preferidas, a 4 Pines.
Chuva. Cochilo.
Filme num cinema particular numa mansão de frente à praia Newport, nas Northern Beaches. Jacuzzi a 40 graus depois de um dia frio, vinho branco de qualidade na taça de cristal.
Vinho para aquecer o coração, jacuzzi para aquecer o corpo e o barulho do mar para acalmar as emoções.

Dia 4:
Chuva, chuva, chuva...
Mais um dia preguiçoso. Um dia chuvoso em Sydney é como a chuva em qualquer outro lugar- dá vontade de ficar em casa, ler, ver filmes, enrolar a vida até o que o sol saia novamente.
Ainda estou em Manly, na casa da Claire, do outro lado da cidade e esperando o sol voltar para pegar o ferry de volta para casa. Como pegar uma barca tão famosa na chuva? Para ficar trancada dentro, com frio? E aqui está gostoso, aconchegante, quentinho.
Saímos novamente em busca de comida, é o almoço de aniversário da cunhada da Claire. Vamos para o centro norte da cidade, Hornsby. Conversas interessantes, gente bonita, só sucesso. De lá vamos fazer compras e pegamos o trem pra catedral de Maria, onde uma amiga irá se batizar na missa de páscoa, direção centro da cidade.
A jornada no trem da casa da família da Claire para a catedral é uma surpresa, foi como estar num trem da Keihan novamente, de Uji para Kyoto, observando as casas pela janela.
Sydney é como o amálgama de todos os lugares que eu já vivi, por isso acho que me encontrei aqui.
O batizado/ missa de páscoa foi a coisa mais linda do mundo. Sentamos na imensa catedral gótica com uma vela na mão, que recebemos na entrada. A vela não estava acesa. De repente, todas as luzes se apagam, e uma primeira vela acende uma segunda vela, que acende uma terceira, quarta, quinta... dessa literal corrente de luz vem um estrondoso som de órgão. Há uma fogueira do lado de fora da catedral com todos os monges reunidos em círculo. Eles entram ao sol de um coral de mais de 100 vozes. Descubro que a missa é uma obra de arte. 3 horas de arte. Até as leituras vêm em forma de canção do arcebispo. Nos dias atuais, é difícil imaginar um local que ninguém pegue o celular por 3 horas, mas assim foi. É conexão de coração.

segunda-feira, 30 de março de 2015

Top 7- a lista dos sete

Levei um susto semana passada ao abrir a minha caixa do gmail e constatar que a tinha 93% preenchida! Achei que isso nunca poderia acontecer. Iniciei então um processo de retirar o excesso e manter o importante e o essencial. Chegar somente ao essencial ainda é um desafio.
Os primeiros mil emais que eu deletei eram quase todos do meu ex. Um me chamou atenção pelo título e então decidi reler. Era o email com o nosso primeiro top 7.
Fizemos essa lista um dia em Brasília, um dia divertido que levou nossa imaginação a nacionalidaes distantes. Era a lista dos sete restaurantes que mais queríamos comer, cada um refletindo a comida típica que mais gostávamos. A lista fez tanto sucesso em nosso relacionamento que passamos a fazer lista top 7 para diversas coisas: os sete primeiros lugares que queríamos conhecer na Austrália, os sete filmes que mais queríamos ver na sequência, as sete séries, etc, etc. Foram meses muito divertidos, talvez os mais divertidos do relacionamento, o que o número sete esteve conosco. Eles davam um sentido, uma emoção diária, um direcionamento para os próximos passos.
Logo que os conflitos- e nem eram sete- passaram a predominar, deixamos o top 7 de lado.

Mas agora eu resolvi fazer um top 7 dos melhores momentos desse capítulo que vou numerar não cronologicamente de sete:

1- A chegada na Austrália e começar do zero uma vida nova juntos, e tudo o que conquistamos por aqui;

2- A viagem para Western Australia;

3- Os jogos de buraco com a minha família em Ilhabela;

4- Os infinitos particulares, especialmente os primeiros;

5- A primeira letra de música que ele escreveu para mim;

6- As flores que ele coletava para mim em seus caminhos;

7- As surpresas de cada dia 23.

quarta-feira, 18 de março de 2015

As marcas das coxas raladas pelo forró a 10 mil quilômetros de distância


Estive recentemente em uma temporada no Brasil, que por motivos diversos não me permitiu um rala coxa no forró... voltei morrendo de vontade de gingar. Com muita alegria, então, acompanhei neste fim de semana amigos brasileiros num forrozinho em West End, Queensland, Austrália.
Por sinal, West End é um dos bairros mais interessantes que eu já tive o prazer de passar uma temporada. Singelo, alegre, surpreendente e cheio de comida gostosa e gente bonita. Andar 100 metros em West End é passar por um túnel do tempo, onde as fronteiras entre o tempo e o espaço se dissolvem e você não sabe onde passou a última hora. Tudo é efêmero e intenso, eterno e fugaz ao mesmo tempo.
Um forró em West End então nos dá o prazer fugaz com sensações que transpassam aquele momento. Assim estou eu, no forró, e neste momento só observando o movimento de brasileiros, exultantes de alegria por expressar sua cultura, seu corpo, seu movimento num lugar tão distante, e os australianos, hipnotizados por essa alegria, cultura, por esse gingado de um lugar tão exótico. Tenho certa curiosidade numa mesa de brasileiras. Elas são todas baixinhas, mion como se diz no Brasil. Todas lindas, corpos perfeitos, cabelos bem cuidados, etc, etc. E todas ali com um só homem na mesa. Assim, elas se revezam com o bendito cujo na pista de dança. Até aí minha curiosidade se reserva ao fato de mulheres tão similares terem se encontrado e se agregado em lugar tão distante.
Há do outro lado do bar, três brasileiros, tomando uma cerveja no balcão. Esse trio é composto por duas mulheres lindas, mais altas, e um moço do Recife, de cabelos encaracolados. Uma das meninas é uma das melhores dançarinas de forró que eu já tive o prazer de ver ao vivo. A outra é mais tímida e está somente agora se arriscando em tais passos. Visivelmente, a moça que dança como nenhuma outra está interessada no pernambucano (e eu não posso tirar sua razão, são quase todos interessantíssimos). Eles formam um casal lindo de se ver, expressam o que sentem dançando com muita presença.
O interessante é que depois de dançar com uma das mion, o macho único da mesa se dirige à moça que dança como ninguém. O que se observa a seguir é surpreendente:
A menina expressa que eles já se conhecem de algum lugar. Então ela grita para o pernambucano, expressando a sua naturalidade: "MEU, eu já dancei forró com esse cara em SP!". Vejam bem-  esse casal que já ralou suas coxas em SP se reencontra no meio do nada desse continente-ilha. Claro que passam então a dançar a próxima música, relembrando passos passados. O que é mais interessante ainda se segue. É notório que o cara muda de figura, que relembra também sentimentos passados, e agora muito presentes. Ele gosta da moça que dança como ninguém. Eles também formam um casal bonito de se ver, embora ele dance com menos sentimento e mais técnica (piruletando). Bom, a menina tenta correr de volta para o pernambucano, mas por vezes fica atrapada com o cara único. As moças pequenas começam a dançar umas com as outras, um australiano de rastafari começa a arriscar alguns passos, e eu peço outra cerveja no balcão.
Para criar um certo suspense, vou agora contar da banda. O cantor é brazuquíssimo, mas criado na Itália. Tem claramente a preocupação estética dos romanos. À sua direita, dois músicos australianos. Um termina o doutorado sobre o Tom Jobim e teve o prazer de passar um mês na casa dos Jobim fazendo pesquisa de campo (é, tem gente que sabe escolher o seu tema de pesquisa). O outro toca flauta e é muito simpático, mas não tive o prazer de conversar, só de receber seu sorriso. À sua esquerda estão um brasileiro na percussão e um italiano no baixo. O grupo manda bem no som, curti!
Concentrados que estão em seu trabalho, não observam que a menina que dança como ninguém conseguiu beijar o pernambucano, que na sequência começou a dançar com as mion. Que o australiano rastafari está interessado na brasileira que apenas aprende e que há agora um pequeno conglomerado de homens australianos dançando forró na frente do palco como se fosse uma dança qualquer, assim, sem dupla. E que eu finalmente saí para comprar uma esfiha no buteco libanês que fica na esquina.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

O risoto que deveria ser a poção mágica do amor

Em tempos passados eu andei saindo com um australiano. Ele parecia tudo de bom no primeiro mês e um sapo no segundo mês. Durante todo o tempo, no entanto, ele cozinhava. Cozinhar para ele era um ato de amor: café da manhã com capricho, almoço com atenção, jantar com carinho. Ele era criativo e dava energia em cada comida. Esse era o ponto alto do relacionamento. Mas como os pontos fracos estavam se sobressaltando, fui terminar o que quer que seja que estivéssemos vivendo.
Então ele me olhou com muita profundidade e da maneira mais singela do mundo me fez somente um pedido:
- Você pode decidir se vai de fato terminar comigo depois de comer meu risoto? Meu risoto é muito gostoso, por favor me dê essa chance.
Achei tão interessante e engraçado esse pedido, que não tive como recusar.

Passados alguns dias, o risoto chega em minha momentânea casa. Ao comer, no entanto, tive uma grande surpresa. Era simplesmente a pior coisa que eu já tinha comido, não só na vida, mas principalmente que ele tinha cozinhado. Certamente não faltaram ingenuidade, atenção, capricho, nem carinho- esses ingredientes estavam presentes. O que faltou era uma pitada italiana no sangue surfista- risoto não é simplesmente arroz com algo que o torne molhadinho. Não. Risoto é a combinação perfeita de ingredientes necessários. Principalmente se você quer que seu risoto seja a poção mágica do amor. A princesa não virou ogro nem o ogro virou príncipe. Faltaram ingredientes nessa poção.
Mas vou sempre me lembrar desse como um dos términos mais enigmáticos da minha vida. 

domingo, 30 de novembro de 2014

Welcome to the country

Toda reunião, aglomerado de pessoas, na Austrália, tem que ter o ritual "Bem vindo ao país".
Aqui, geralmente, quando falam a palavra "país" ou em inglês "country" estão se referindo às comunidades tradicionais aborígenes. Chama-se então um aborígene que tenha nascido e ainda tenha os costumes tradicionais para liderar o ritual. Geralmente tem alguma história sobre a região, uma lenda, uma perspectiva histórica ou o que a pessoa aborígene sinta no momento. Muitas vezes, eles também tocam o instrumento tradicional, o didgeridoo, que parece um berrante do pantanal, mas diferente. É feito de madeira e lindamente decorado.
O ritual é bonito porque eu adoro contação de histórias, eu adoro músicas fortes, e as que vêm do didgeridoo são assim. Também porque eu adoro  os conhecimentos tradicionais e a conexão com a natureza que geralmente os indígenas têm. E também porque eles honram "as pessoas que andaram nessa terra antes que nós".
Mas eu também me sinto um pouco incômoda. Me sinto assim, nesse misto de beleza e contemplação e agonia porque... bom, a vida dos aborígenes na Austrália não é fácil. Até os anos 70 as crianças eram separadas de suas famílias, muitos escravizados (enviados para instituições de educação e depois para trabalhar em casas de família ou coisas parecidas), quase não há mais aborígenas para andar por essas terras, eles não podem mais sobreviver de seus saberes tradicionais, eles praticamente não têm terras protegidas, etc.
Pronto, só queria me expressar. Não é fácil estar no ritual e ficar só em contemplação.

sábado, 23 de agosto de 2014

Meus vizinhos da Quondong Street

Eu amo os meus vizinhos. Ponto.
E aquele sentimento espontâneo, gostoso, aquela vontade de se ver, aquela vontade de fazer coisas legais e gostosas para eles, aquela vontade de que o momento pare e que não tenhamos que nos separar nunca.

Como começou?
Era um fim de tarde qualquer, eu estava em casa lendo, e bateram na porta. Era um senhor com um bigode engraçado falando qualquer coisa sobre o apartamento. Ele se apresentou como o sindico e se ofereceu para me explicar o que era minha responsabilidade, o que era dele, e o que era da imobiliária, porque na sua opinião as imobiliárias tentavam tirar muita vantagem dos inquilinos estrangeiros. Logo ele falou que morou 17 anos no Japão. Prontamente eu respondi que também tinha morado por lá, e logo nos identificamos e ficamos uma hora jogando papo furado.

No outro dia, ele voltou com alguma lembrança para mim do Japão, e jogamos mais papo furado. Logo ele estava me esperando chegar da varanda para jogar papo fora, e logo foi crescendo a amizade. Ele sempre me apoiando, um dia me deu a senha da internet dele até que eu instalasse uma para mim. Eu uso a internet dele até hoje... resquícios de uma amizade que permanece. Sua esposa Jill então é minha contraparte materna australiana.

Aí minha mãe e minha irma vieram de ferias e a simpatia cresceu entre elas também. Começou então uma troca de dotes culinários- um fazia um prato, o outro retribuía, e assim a Julia acabou dando todos os meus alfajores e doces de leite que ela tinha trazido da Argentina para os vizinhos. Claro que dessa parte eu não gostei.

A outra vizinha da frente é uma senhora de uns 70-80 anos chamada Dawn. A conhecemos no dia em que no micro corredor ela nos perguntou se a nossa TV estava funcionando. Eu respondi que não sabia porque não tínhamos TV, ao que ela acrescentou chorando que fazia dias que sua TV não funcionava, que ela se sentia sozinha, que ela tinha chamado um técnico que a passou a perna, etc, etc.. ao que no instinto brasileiro fui e dei um abraço na velhinha! Imagina, uma senhora que mora sozinha, sem contato físico há anos, e lá vai a brasileira. Mas aparentemente ela gostou, deixou um cartão e um saco de damascos na minha porta. Daí deixei um cartão na caixa de correio dela. Daí ela agradeceu. Agora ela sempre bate na porta e oferece frutas, sucos, tudo que ela compra e acha que é demais para ela sozinha. Quando viajei para Perth, pedi para ela cuidar das minhas plantas...

Bom, nesse contexto chegou o dia do ano novo de 2013/2014. E eu sempre tenho historias engraçadas/catastróficas nesses dias...
Viajaríamos para a Tasmânia no dia 01 às 10hs. Mas no nosso bairro, Mooloolaba haveria queima de fogos e todos os nossos amigos queriam que nós fizessemos a festa de ano novo no nosso apt. Muito bate bola depois, acabamos cedendo, mesmo sabendo que praticamente não iríamos dormir, arrumando tudo antes da viagem. Acordo cedo, começo a cozinhar um quilo de lentilha para a festa, arrumo o quarto de hospedes onde um casal iria dormir, troco lençol, toalha, compro enfeites de ano novo, etc... já que é para fazer, vai ser uma super festa, penso eu.
Depois de colocar a lentilha no fogo, recebo a primeira mensagem de cancelamento. Parece que vai chover, dizem.
Depois de fazer a cama, recebo a segunda mensagem de cancelamento. Estou com dor de coluna, dizem.
Depois de passar aspirador na sala, recebo a terceira mensagem de cancelamento. Não estou mais a fim, dizem.
Fala sério.
Resolvo então descer pelo prédio e convidar todos os vizinhos para a festa. Todos não tinham planos e aceitam prontamente. Foi super divertido. Um brinde à espontaneidade e à simpatia!

terça-feira, 13 de maio de 2014

Australianos alarmados

Quando você pensa na Austrália você pensa em praia, surfe, galera legal, e... em incêndios, certo? Todos os anos eles sofrem com os "Bush Fires", os incêndios florestais. Não sei se é causa ou consequência, mas eles são obcecados com incêndio também dentro das casas. Aqui dentro do meu apartamento de 80m2 tem dois alarmes de incêndio: um fica na sala, quase na frente do fogão (já que é tipo uma cozinha americana); o outro fica no corredor que liga os quartos. Isso torna a arte de cozinhar ainda mais complicada, porque além dos temperos e sabores, você tem que se preocupar em não fazer muita fumaça, senão já era! O bicho começa a apitar desesperadamente. Como são muita variáveis para lidar ao mesmo tempo, logo que eu me mudei os meus vizinhos me ensinaram a como desliga-lo quando ele começa a apitar (já que eu estava tirando o sossego deles). 

Bom, domingo eu estava fazendo uma carne de porco e o negócio pegou fogo mesmo. Aí todos os alarmes da casa começaram a apitar ao mesmo tempo, desesperadamente. Corri de um lado para o outro, em dúvida de qual tentar desligar primeiro, claro que nenhum funcionava bem, e eu na ponta do pé em cima do sofá apertando o bicho de um lado, correndo para pegar uma cadeira e me equilibrar para apertar o outro. Depois de alguns minutos de caos, quando eu pensei que tudo havia voltado ao controle (já que isso já está quase virando rotina- cozinhar, apitar, apagar, queimar, reclamar dos australianos, sonhar em cozinhar em paz, etc), eu percebo que o bicho do corredor ainda apita, embora em intervalos mais prolongados. Ao invés de "bip, bip, bip" é um "bip.......................bip.......................bip". Ok, mesma correria, aperto o bicho de novo. E espero. Aí vem: "bip.......................bip.......................bip". Para, volta, para, volta. A partir daí eu não tenho certeza se me acostumei ao ruído ou se ele parou um tempo, mas quando eu fui dormir, já não o percebia. 

Claro que às 4hs da manhã sou despertada com o "bip.......................bip.......................bip". Ninguém merece, penso eu. Vou lá, aperto o bicho de novo, sacudo, tiro as peças, encaixo novamente, e volto para a cama sonhando em dormir. Daí, adivinhem? "bip.......................bip.......................bip". OK, desisto, você venceu. Não durmo mais. No outro dia, nada de "bip.......................bip.......................bip", penso que o bicho desistiu de mim. Claro que de novo, na outra noite às 4s da manhã sou despertada: "bip.......................bip.......................bip". Dessa vez eu não pensei duas vezes, desencaixei o bicho e o coloquei na sala, em baixo do sofá, para abafar bem o barulho. Deito na cama, começo a contar carneirinhos e daí "bip.......................bip.......................bip". levanto de novo, pego o bicho do sofá e o coloco dentro da churrasqueira, na varanda. Me deito novamente, coloco um floral na língua, fecho os olhos e "bip.......................bip.......................bip"!!!! Não há meditação, budismo, Ave Maria que te ajude nesta situação!

Quando me levanto então, pela trigésima quinta vez, resolvo colocar o bicho na garagem. Baixo as escadas, na surdina, com medo de ser descoberta (tirar o alarme de incêndio dá multa), e o coloco lá no térreo, escondido dentro da cestinha da bicicleta, fecho a porta com alívio, e subo de novo as escadas com um sorriso no rosto. Deito, já nem me importo mais se vou dormir ou não. A questão é que na minha cabeça começo a escutar um barulho mais intenso. Começa a neurose de que ao tirar o alarme, ele se denuncia e muda o tom. Desço de novo as escadas, e coloco o ouvido na porta da garagem para tentar ouvir algo. Não ouço nada! Subo de novo convicta de que agora posso dormir o sonho dos anjos. E dormi! Aleluia!

O alarme ficou na garagem um par de dias, às vezes quando eu passava, o escutava e dava um sorriso....

P.S: Depois de um par de dias descobri que esse apito significa que está na hora de trocar a bateria. Ui!