segunda-feira, 6 de abril de 2015

Diário de Sydney- dia 1 ao 4

Sydney é maravilhosa, é uma alegria estar aqui depois de muitos sonhos.

Dia 1:
Estou na casa da minha nova prima Cecília. É nova porque ela é prima dos meus meio irmãos e logo que ela se mudou para a Austrália resolvemos que seríamos primas. E assim é.
Sua mãe está a visitando do Brasil e as duas são umas fofas. É uma delícia compartir dias com elas. Começamos esse primeiro dia na correria para chegar ao consulado em tempo para a minha entrevista de renovação do passaporte, mas mesmo assim elas acharam tempo para me darem as boas vindas e os melhores desejos.
Depois do consulado e de uma escapada à Uniclo, minha loja de roupas japonesa preferida, encontramos Andrej, marido da Cecília para almoçar num... japonês! Delícias a parte, foi um dia especial onde tive a emoção de ver, tocar, cheirar, viver a Opera House, esse edifício mais chique do mundo, e as piscinas de Bondi. Andei por todos os lados, tirei fotos de todos os ângulos, saltitei, tudo o que tinha direito. A Opera House na verdade é um dos em um, são dois edifícios inspirados em conchas. Eu nunca tinha pensado nisso, mas depois que vi a placa achei pura concha. Quanto às piscinas, descobri que na verdade quase toda praia aqui tem piscina, é um luxo só.

À noite, tínhamos ótimas intenções. Coloquei meu vestido novo, rendado. Cecília me emprestou um salto. Coloquei uma super maquiagem. Fomos no pub perto de casa, mas não havia ninguém. Não tínhamos muita certeza onde ir em seguida, daí me lembrei que alguém havia me sugerido o bairro The Rocks. Perdidas como duas brasileiras num país estranho, demos algumas voltas para achar um estacionamento permitido. Entramos um pub com duas pistas de dança no segundo andar. Escuto Zouk e vejo as pessoas dançando como em Cabo Verde e então 5 anos de desejo reprimido consomem meu corpo e eu quero, exijo um africano para dançar comigo. Rapidamente localizo um com meu faro apurado, que logo me chama para dançar. De início, nega a sua nacionalidade. Sou francês, me diz. Completa: sou francês, canadense e australiano. OK, respondo eu sem questioná-lo. Ele então me pergunta de onde eu sou. Brasil, respondo. Ele me questiona: só isso? Rio e respondo que é suficiente, o Brasil é rico demais. Ele contra argumenta que eu deveria ser uma cidadã do mundo. Rio internamente lembrando do adjetivo que meus amigos já me impuseram. Respondo que eu sou cidadã do mundo, mas que não nego as minhas origens. Então ele finalmente confessa: sou francês, mas de uma colônia francesa na África. Eu sabia, respondo. Ele diz: sou do Gabão.
A dança acaba e eu me despeço, com seu cartão na mão. Ele é treinador de futebol e esteve na copa do mundo ano passado. Ele me pergunta: és casada? Respondo negativamente e ele fecha a noite pergutando se pode colocar um anel em meu dedo. E finalmente eu me recordo porque não sinto falta da África.

Dia 2:
Estou sentada no café da Guylian, marca de chocolate belga que eu adoro, tomando chocolate quente. Delírio de prazer.
Acabei de sair da lojinha do museu de arte contemporânea e não tive vontade de comprar nada. Sorte.
A missão agora é achar um café super recomendado para comer um scoone irlandês e logo em seguida seguir para a minha livraria preferida do Japão, que tem uma filial em Sydney. A livraria fecha às 19hs então eu quero chegar lá antes das 18hs para dar tempo de cheirar meus livros preferidos. São 16hs, há 1 km de distância, e um chocolate líquido guylian na barriga. Desejemos.
Depois da livraria, do scoone e do chocolate quente, tenho uma aula de biodanza.
PS post factum-
Eu caminhei na direção errada da George St, cheguei no café irlandês depois que fechou, cheguei antes das 18hs na livraria, mas ainda assim não tive tempo suficiente. Ela é maior do que minha imaginação deu conta.

Dia 3:
Perfeito.
Acordei às 10:30, o cansaço da caminhada bateu no meu corpo pós cirúrgico. Mas pude descansar.
Estou na famosa praia de Manly, na linda casa da minha maravilhosa amiga Claire.
Chuva.
Vamos almoçar cinco mulheres magníficas numa das minhas cervejarias preferidas, a 4 Pines.
Chuva. Cochilo.
Filme num cinema particular numa mansão de frente à praia Newport, nas Northern Beaches. Jacuzzi a 40 graus depois de um dia frio, vinho branco de qualidade na taça de cristal.
Vinho para aquecer o coração, jacuzzi para aquecer o corpo e o barulho do mar para acalmar as emoções.

Dia 4:
Chuva, chuva, chuva...
Mais um dia preguiçoso. Um dia chuvoso em Sydney é como a chuva em qualquer outro lugar- dá vontade de ficar em casa, ler, ver filmes, enrolar a vida até o que o sol saia novamente.
Ainda estou em Manly, na casa da Claire, do outro lado da cidade e esperando o sol voltar para pegar o ferry de volta para casa. Como pegar uma barca tão famosa na chuva? Para ficar trancada dentro, com frio? E aqui está gostoso, aconchegante, quentinho.
Saímos novamente em busca de comida, é o almoço de aniversário da cunhada da Claire. Vamos para o centro norte da cidade, Hornsby. Conversas interessantes, gente bonita, só sucesso. De lá vamos fazer compras e pegamos o trem pra catedral de Maria, onde uma amiga irá se batizar na missa de páscoa, direção centro da cidade.
A jornada no trem da casa da família da Claire para a catedral é uma surpresa, foi como estar num trem da Keihan novamente, de Uji para Kyoto, observando as casas pela janela.
Sydney é como o amálgama de todos os lugares que eu já vivi, por isso acho que me encontrei aqui.
O batizado/ missa de páscoa foi a coisa mais linda do mundo. Sentamos na imensa catedral gótica com uma vela na mão, que recebemos na entrada. A vela não estava acesa. De repente, todas as luzes se apagam, e uma primeira vela acende uma segunda vela, que acende uma terceira, quarta, quinta... dessa literal corrente de luz vem um estrondoso som de órgão. Há uma fogueira do lado de fora da catedral com todos os monges reunidos em círculo. Eles entram ao sol de um coral de mais de 100 vozes. Descubro que a missa é uma obra de arte. 3 horas de arte. Até as leituras vêm em forma de canção do arcebispo. Nos dias atuais, é difícil imaginar um local que ninguém pegue o celular por 3 horas, mas assim foi. É conexão de coração.

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