Hoje eu ia publicar a segunda parte da viagem às Canárias. Mas hoje é um dia especial, todo 01.04 é um dia especial para mim. Há 3 anos meu pai fez sua passagem. Resolvi partilhar algo que escrevi para ele hoje no café da manhã, enquanto tomava meus cereais. Não que seja um poema ou um grande texto, estou longe de escrever bem algo além das crônicas da minha vida e textos científicos que não tem validade em Cabo Verde, onde o Documento Estratégico de Crescimento e Redução da Pobreza tem como base o programa de governo.
Eu já perdi algumas pessoas nesse plano, meu irmão, meu pai, uma de minhas melhores amigas ano passado, entre outras amigas que se foram, embora não tenham feito a passagem. É engraçado como essa dor, para mim, é bem diferente das outras, porque ela não diminui com o tempo, ao contrário, as lembranças ficam mais nítidas e as saudades maiores, vou me lembrando de coisas que já não estavam no meu consciente há tempos.
Por exemplo, outro dia me lembrei de um episódio com meu irmão que é muita vontade de viver algo com a pessoa mesmo, porque eu devia ter pouco mais de um ano. Ele estava convencendo a minha mãe a me deixar andar com ele de bicicleta, eu na garupa, é claro. Minha mãe já ia falar um não convicto, mas o Daniel era muito cativante, com aquele sorriso acabou a convencendo. Eu, já na garupa, estava em pânico, mais pelo medo que sentia na minha mãe, olhava para ela e via aquela dúvida quase certeira de que não havia tomado a melhor decisão. Comecei chorando, logo gargalhava internamente, não externamente porque com todas as minhas forças me segurava na bicicleta, mas sentindo a segurança dele, e no fim chorava de novo, mas dessa vez porque ele tinha parado, e minha mãe me pegava no colo achando que eu chorava pelo motivo 1 e não 2, eu com a cara toda rosada, Daniel sorrindo, acho que tinha entendido. Muito gostosa essa lembrança...
Enfim, vamos às notas que escrevi para o Big:
Voa, corujinha, voa
Porque quem tem a alma
Livre
Não consegue viver
Com menos
Limitado
Ensacado
Corujinha de olhos penetrantes
Sei que até hoje me olhas
Com aquele olhar meio desinteressado
interessadíssimo
Rio muito, corujinha
Saudades
Do castelinho
Dos livrinhos
Da chácara
Da corujinha
(Cadê o Dendinho?)
Corujinha minha
Grande foi a sua vida
Pequena?
Voa, voa...
3 comentários:
pra mim vc sempre vai ser poeta.
Poesia é sempre um bom remédio para tristeza... Versos lindos para uma saudade grande.
Sinto sua falta
Bjos
Rê
Oi, Juana,
A Daniela me passou o endereço do seu blog. Já estive por aqui e estou adorando os teus relatos. Já provou o atum em conserva? Tá certo que tem bastante atum fresco por aí, mas os de conserva (especialmente aquele da lata vermelha grande) são ótimos...
Minha passagem por Cabo Verde foi muito rápida. Acho que vou aprender mais sobre a terrinha com você.
Bom, resolvi te deixar esse alô aqui porque temos mais uma coincidência: também perdi meu pai fará três anos. Essa saudade que aumenta, é curiosa, né, e real.
Um beijo e muita sorte por aí.
Adriana (mulher do Lino)
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