terça-feira, 19 de outubro de 2010

Percepções sensoriais

Percebi que algumas percepções sensoriais geram lembranças fortíssimas de uma determinada pessoa em minha vida.

Eu não posso evitar. Estou num bar, no trabalho ou em qualquer ambiente e de repente algo desperta uma lembrança tão forte que eu não tenho como evitar o choque de realidade.
Sexta feira foi na pizzaria. Estou sentada conversando com amigos queridos e sinto um cheiro, que entra e vai direto para o coração, gerando um certo distúrbio. Levo 30 segundos para conectar a percepção à lembrança. Era o cheiro do óleo de buriti da natura. Eu o ganhei de presente quando retornava de Brasília a Cabo Verde, em uma dessas férias, e o usei todos os dias. Este momento coincidiu com o que eu conheci o tartaruga, uma grandíssima paixão. Então eu tomava banho e passava o cheiroso óleo com todo carinho e cuidado sob o meu corpo, que seria então tocado por ele. De repente o óleo acabou, e o relacionamento também. Estavam todos enterrados no passado (será?) até eu sentir o cheiro novamente, na sexta.

Já ontem eu achei alguns CDs que eu já considerava perdidos, depois de tantas mudanças. Hoje coloquei no carro o “Part of the process” do Morcheeba. Algumas músicas do grupo evocam um ano da minha vida universitária, que eu gostava de um cara que sempre entrava no meu fusquinha com a fita na mão para escutarmos. Dirigíamos por aí escutando Morcheeba. Ou eu escutava quando eu queria me lembrar dele.

Outro dia foi num grande festival de rock. E veio uma lembrança da qual eu nem tinha consciência. Começou o show do Kings of Leon e eu comecei a me sentir extremamente estranha e desconfortável. De repente tocou uma música que foi como uma estaca no meu coração. Então eu lembrei que eu fui num festival ano passado com uma pessoa maravilhosa, onde também teve o show do Kings of Leon. Mas eu apaguei da memória porque essa música me marcou especificamente. Infelizmente não foi porque ele me deu um beijo inesquecível. Inclusive essa lembrança é difícil porque um dos momentos mais difíceis da minha vida foi o último dia que eu vi este cara. Minha mala tinha estragado e eu tinha poucas horas para ir ao centro, comprar outra, voltar à sua casa, trocar tudo e correr para a estação de trem para pegar o trem das 5. Lembro que correr no centro era tão, mas tão difícil, porque meu coração pesava tanto quanto a mala, eu me sentia 150kg mais pesada, não tinha forças, chorava, achava que não ia conseguir, colocava a mão no peito para saber se podia ajudar a deixar tudo mais leve e correr...

Este mesmo cara corresponde a outro cheiro. Quando eu o conheci, na minha primeira visita à Bélgica, fui sua hóspede, e a cama onde dormi era a mais cheirosa da vida. Os lençóis tinham sido recentemente lavados com o amaciante mais cheiroso de belga. Quando voltei a Cabo Verde, fui ao supermercado mais caro e fiquei procurando o amaciante. Não é que achei? Comprei, lavava todo dia as minhas roupas todas para ficar com cheiro de belga gostoso e me lembrar dele o dia todo.

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