quinta-feira, 1 de abril de 2010

Quem já está familiarizado com o blog sabe que eu não acredito em coincidências. Me explico melhor, eu penso que elas existem, mas que são coincidências significativas, providência, nada acontece por acaso. Eu também acredito que quando algo está muito, muito difícil, é porque não é para acontecer, e é melhor não ficar batendo a cabeça. Com base nesses dois argumentos, você vai entender a história abaixo.
Bom, eu estava planejando uma viagem de carro à Galícia e o norte de Portugal com umas amigas do mestrado, nas férias da semana santa (temos 10 dias). Confusão aqui, confusão ali, uma desistiu aqui, a outra ali, uma outra amiga nada a ver com o mestrado me comentou que ia fazer o caminho de Santiago, uma luz brilhou na minha cabeça, e pronto. Nada de viagem com amigas do mestrado. Resolvi fazer os últimos 100 km do caminho de Santiago e ser oficialmente peregrina, conhecer Galícia caminhando.
Me planejei, comprei frutas secas, pedi um saco de dormir emprestado, etc, etc, aí eu fui me enrolando, me sentindo fora de forma, etc, etc, e queria desistir. Aí uma amiga luxemburguesa, que eu conheci em Cabo Verde, me escreveu perguntando se poderia me visitar semana que vem. Respondi que eu pensava em fazer o caminho, mas que eu era flexível para me ajustar aos planos dela. Ela me respondeu dizendo que sempre quis fazer o caminho e que amaria. Pronto, já não podia dar pra trás.
Depois comentei com um colega do mestrado, que é padre, e ele comentou que tem um amigo padre que tem um albergue no caminho de Santiago. Hoje acordei com um telefonema de que o padre Ernesto nos havia convidado para almoçar. E eu fui, claro. Seu albergue é incrivelmente lindo (albergue La cabana del abuelo Peuto, em Guemes) e me transmitiu muita paz. Foi uma almoço maravilhoso numa mesa cheia de gente simpatiquíssima, um presente de páscoa. Estava uma parte da sua família que mora em Barcelona, que também já haviam morado na Argentina, um papo impressionante. O albergue tem o nome do seu avô, que foi quem construiu a casa, ele me explicou. Ernesto tem também uma ONG, conhece muitíssimos países (entre eles o Brasil, e, pasmem, Brasília), faz muitíssimos trabalhos sociais, um homem incrível. Não tenho nenhuma foto porque esqueci a minha máquina, mas combinamos de voltar em maio, fazer um pedaço do caminho norte de Santiago em maio e nos hospedar ali.
Depois do almoço, Nicolas, o meu colega do mestrado, que é do Chad, sugeriu de irmos com o Ernesto na missa que ele ia celebrar, numa igreja románica (há posts antigos sobre as igrejas románicas, minha nova paixão). Entramos então nesta igreja maravilhosa os 3, e estávamos conversando tanto, tão à vontade, que quase me esqueci que os dois eram padres, quase vou até o altar com eles. Finalmente sento sozinha e fico apreciando a arquitetura, a decoração. Quando a missa começa, já fiquei emocionada só de ver o Nicolas celebrando a missa. Ele é uma pessoa tão linda, tão lutadora, que quer tanto voltar para mudar a realidade da sua comunidade, que fala com tanta paixão da África, que eu percebi que o amo do fundo do coração. A missa é linda, diferente, tudo vai muito bem, até que o padre Ernesto fala que hoje devemos lembrar e honrar nossos mortos. E começo a fazer a lista mental dos meus. Quando cai a ficha.
Simplesmente hoje é 01 de Abril de 2010.
Simplesmente hoje é uma data que eu observo todos os anos, em reflexão e oração, vocês podem ler nos posts antigos do blog, e que hoje eu tinha me esquecido.
Hoje faz 5 anos que o meu pai morreu.
Que louco.
Estava eu, nesta missa, numa igreja especialíssima, no meio do nada, felicíssima, e comecei a chorar.
Nisso, escuto meu pai falando comigo. Logo em seguida, o padre Ernesto pede ao Nicolas para se apresentar e falar do seu país. Depois o Nicolas pede para eu também subir no altar e falar sobre mim e sobre o meu país. Eu assim, dominada de emoção. Subi, e comecei a falar, hola, soy Juana, de Brasil, blá, blá, e falo que queria compartir algo com eles, e que hoje fazia 5 dias que meu pai tinha morrido e começo a chorar. Acabei não falando nada do Brasil. Aí o padre Ernesto retoma a palavra e fala que eu tinha morado em Cabo Verde, fazendo trabalho social e que eu, blá, blá. Que papelão. Assim, mais uma vez a vida me prova que a gente tem que estar onde tem que estar no momento que tem que estar e que nada é por acaso. Foi um dia lindo. Obrigada.
Sou Juana, do Brasil, amo o meu país, não é por falta de amor que eu saí, mas por amor universal. Sou filha do Lyonel e da Teresa, e sou um pouco de cada um deles também. Eles estão em mim e vão comigo a todos os lugares.
Amém.

2 comentários:

While I'm bored... disse...

ju.. fiquei emocionadissima!!! saudades

Linda Alice!! disse...

Arrepiada......incrível!

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