quarta-feira, 14 de abril de 2010

El camino

"Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en la mar".
Antonio Machado

"Abandonad, si hace falta, una vidda cómoda, aquello que os presentan como una situación con porvenir. Lanzaos a los caminos".
André Bretón, los pasos perdidos

Fazer o caminho de Santiago de Compostela é algo indescritível. São diferentes sensações, a importância de cada passo, o desobrimento de detalhes que você nunca havia dado importância.
Foram 5 días de caminhada, extra-oficialmente 93,76km.
Veronique, minha amiga de Luxemburgo, que eu conheci em Cabo Verde, e agora vive na Dinamarca, escreveu um email perguntando se poderia vir me visitar essa semana. Comentei que pensava em fazer o caminho e ela se animou. Chegaria sábado à noite, mas perdeu uma conexão e chegou domingo à tarde. Fui ao aeroporto esperá-la e já alugamos um carro pequeno e dirigimos até Lugo, cidade mais próxima do início do caminho onde poderíamos devolver o carro.
Chegamos em Lugo só às 23hs, o albergue para os peregrinos (como são chamadas as pessoas que fazem o caminho) já estava fechado, então com a ajuda de um simpático senhor da cidade, encontramos um hotel baratinho para passar a noite. No outro dia pela manhã, devolvemos o carro, caminhamos 2,5km até a estação de ônibus e então de repente tínhamos uma decisão crucial a tomar. Onde exatamente iniciar o caminho. Normalmente quem vai caminhar os últimos 100km inicia em Sarria, que o guia dizia ser 5 dias completos de caminhada (e já era segunda metade do dia). Sarria na verdade fica a 120km do início, e a próxima parada, Portomarín, fica a 98km. Assim decidimos ir a Portomarín, onde podíamos ter a certeza de que teríamos tempo para completar o percurso. Todas tínhamos que voltar domingo para casa.
Pegamos então o ônibus a Portomarín às 13hs, e aproximadamente às 13:30, selamos nossas credenciais no albergue e iniciamos a parte II do caminho.
1º dia:
Lugo- Portomarín (de ônibus)
Portomarín- Hospital da Cruz (12,19 km).
Chegamos aproximadamente às 17hs no albergue, tomamos banho e corremos para o restaurante, famintas. Muito mal: estamos na Espanha e os espanhóis têm uns horários horríveis de refeições. Nem num albergue de peregrinos há trégua! Refeições seriam servidas somente depois das 19:30. Ponto positivo: sentamos no sol, tomamos uma cervejinha, e lemos nossos livros. Livro que me acompanhou: Mujeres rotas, Simone de Beauvoir. Às 20hs comemos o menu del dia: sopa de vegetais, de primeira; pinchos de segunda; tarta de queso, de sobremesa. Tudo isso acompanhado por muito vinho por 9 EUR. Resultado: dormi mal (também estava desacostumada a dividir o quarto com 50 pessoas, a maioria roncando fortíssimo).
Conhecemos uma alemã, nossa primeira amiga del camino.
2º dia:
Hospital da Cruz- Palas Del Rei (12,87km)
Palas del Rei- Mélide (15,22)
Total do dia: 28,09 km
As regras de todos os albergues públicos do caminho é sair antes das 8hs da manhã e dormir até às 22hs.
Esse foi o dia mais extenso, e quando chegamos em Mélide eu estava começando a ficar de muito mal humor. Isso eram 16hs...
Sem conseguir caminhar muito mais, não conhecemos a cidade, fomos só no bar da frente do albergue. Entramos e só havia um velhinho atrás do balcão, rindo muito de um programa de TV. Fui, simpatiquíssima, convencê-lo a cozinhar algo pra gente. Ele, muito gentilmente, concordou em fazer 2 tortillas de chorizo e salada. Muito felizes, depois do banho tomado, e com a nossa merecida cerveja na frente, desfrutávamos o prazer de estar paradas.
De novo encontramos a nossa amiga alemã, que tinha o objetivo de chegar a Santiago na quinta, o que para nós era algo impensável. Ela disse que se seguíssemos nesse ritmo, chegávamos quinta com certeza. Nos olhamos: não queríamos seguir nesse ritmo. Por favor, mais que andar, queria desfrutar do caminho!!
3º dia:
Mélide- Árzua (14,30km)
Veronique acordou com muitas dores e concordamos em caminhar menos neste dia. Eu chequei no mapa e depois de Árzua não havia nenhum albergue por 16km, então não tínhamos alternativa a não ser caminhar muito pouco neste dia. Mas foi uma opção acertada, já que Árzua é uma cidade maiorzinha e muito agradável. Chegamos às 12:15, eu tive o meu primeiro contato com o mundo exterior, já que tinha que entrar na internet para responder um email importante, e depois almoçarmos MARAVILHOSAMENTE.
Menu del día: caldo gallego, de primera; gallo (é o nome de um peixe), de segunda; e tarta de Santiago, de sobremesa. Tudo acompanhado, como sempre em todos os lugares da Espanha, menos Santander, de excelente vinho. Por 8 EUR.
Já caindo totalmente de amores por Galícia, conversei longamente com o garçom, que logo percebeu, pelo meu imperdível sotaque, que eu era brasileira. Eu sempre pensando que o sotaque galego é muitíssimo parecido com o argentino, lhe perguntei sobre imigração, etc. Ele me explicou que o galego (que também é uma língua) já está muito parecido com o português pela mescla, influência da proximidade e ditadura franquista.
Neste dia, com calma, descansadas, fizemos muitos amigos espanhóis no albergue, muitos de Bilbao, cidade vizinha a Santander. Sentei na praça, perto do coreto, para tomar minha cerveja e ler meu livro, e fiquei até o sol ir embora.
Depois continuo...

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