4º dia: Árzua- Pedrouzo (19,20km)
Acho que esse é o dia com mais feeling de caminho. Já reconhecemos amigos, paramos para um papo, compartilhamos comida, etc. Também é o primeiro dia que seguimos literalmente o roteiro de paradas recomendado oficialmente. Como sempre tem que acontecer no caminho, eu me perdi um pouquinho. Estava viajando e caminhando quando cheguei numa encruzilhada e... não havia nenhuma seta amarela demarcando o caminho. Ficou claro que eu não estava no caminho. Voltei até achar o lugar em que eu havia pegado o caminho errado e segui em frente.
Confraternizamos com um casal irlandês muito engraçado. Eles fazem o caminho há anos, todo ano um pouco, e não estão nem um pouco a fim de chegar. São maiores, chuto uns 55 anos. Por isso, eles vão fazer esse último trecho em 3 dias. O mais legal é que domingo, na rodoviária de Santiago, os encontramos. Estavam pegando um ônibus para Fisterra, o fim do mundo dos antigos. Me explico, é onde a costa galega encontra o mar, e antes "do descobrimento das Amér
ricas" (a invasão) eles dizem creer veementemente que ali era o fim do mundo. Alguns peregrinos, depois de chegar em Santiago, fazem mais 3-5 dias de caminhada para chegar lá e finalmente queimar as roupas que os acompanharam durante o caminho.
Chegamos em frente ao albergue uns 15 minutos antes de abrir (ou seja, 12:45) e já havia muita gente esperando, deu um medinho de não conseguir lugar, mas a cidadezinha era relativamente grande e tinha muitas pensões privadas. A Becky havia se perdido e chegou uma meia hora depois, mas ainda conseguiu lugar para dormir. Eu aproveitei para lavar todas as minhas roupas extremamente usadas e saímos para almoçar e tomar sol. Sim, pegamos uma Galícia cheia de sol! Fiquei tão empolgada, já que as minhas pernas estão horrivelmente brancas, que fiquei ali a tarde toda sem protetor solar. Resultado: no outro dia acordei com uma alergia solar horrível nas pernas. É, meu corpo estava há 5 meses sem ver o sol.
Conversamos mais e mais com os meninos de Bilbao e à noite saímos para tomar a famosa queimada, bebida típica da Galícia. Num caldeirão de barro, colocam Orujo (que é aguardente), grãos de café, limão, azúcar e colocam fogo! Enquanto o fogo pega na bebida, você deve ler o conjuro:
"Corvos, pintigas e meigas, feitizos das mencinheiras.
Pobres canhotas furadas, fogar dos vermes e alimanhas. Lume das Santas Companhas, mal de ollo, negros meigallos, cheiro dos mortos, tronos e raios. Oubeo do can, pregon da morte, foucinho do satiro e pe do coello. Pecadora lingua da mala muller casada cun home vello.
Averno de Satan e Belcebu, lume dos cadavres ardentes, corpos mutilados dos indecentes, peidos dos infernales cus, muxido da mar embravescida.
Barriga inutil da muller solteira, falar dos gatos que andan a xaneira, guedella porra da cabra mal parida.
Con este fol levantarei as chamas deste lume que asemella ao do inferno, e fuxiran as bruxas acabalo das sas escobas, indose bañar na praia das areas gordas. ¡Oide, oide! os ruxidos que dan as que non poden deixar de queimarse no agoardente, quedando asi purificadas.
E cando este brebaxe baixe polas nosas gorxas, quedaremos libres dos males da nosa ialma e de todo embruxamento.
Forzas do ar, terra, mar e lume, a vos fago esta chamada: si e verdade que tendes mais poder que a humana xente, eiqui e agora, facede cos espritos dos amigos que estan fora, participen con nos desta queimada" (em galego).
Adorei o conjuro! Fala sério!
5º dia: Pedrouzo-Santiago de Compostela (19,98km)
O dia começa com um caminho bonito, e termina super nada a ver, já que passamos pelo aeroporto, as maiores redes de TV da Galícia, e chagamos à Santiago pelo subúrbio. A parte mais divertida é certamente chegar no Monte do Gozo, primeiro lugar que os peregrinos podem ver as torres da catedral de Santiago. A tradição é que um grupo deve correr, e o primeiro a avistar as torres é o rei dos peregrinos. O Monte também é certamente o último lugar de desanso antes do destino final. Agora tem um monumento enorme em homenagem ao Papa João Paulo II que ali foi, então perdeu um pouco da naturalidade e da expontaneidade dos peregrinos antigos.
Neste dia eu escrevi num pedaço de papel que achei depois: "estou realmente confusa com os diferentes sotaques, quer dizer, de repente não sei diferenciar os galegos, dos argentinos, dos portugueses".
Chegando em Santiago...
Vou deixar para outro post, ô história longa!!!!
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