TARRAFAL “CAMPO DA MORTE LENTA”
"Em 1926, a maré reaccionária que alastrava na Europa chegou a Portugal. A 28 de Maio um golpe de Estado militar instaura a ditadura. Começou, para o povo português, um período negro de repressão, obscurantismo, miséria e opressão, que se prolongou por quase meio século. O golpe de Estado de 28 de Maio de 1926 fez Portugal um país sob ocupação militar e policial, num regime de opressão, repressão e exploração - a que chamaram «Estado Novo». Salazar tomou como modelo as ditaduras fascistas de Mussolini e de Hitler. Foi incondicional aliado de Franco na Guerra Civil espanhola (1936-39) para a instauração da ditadura em Espanha. Apoiou as ditaduras nazi-fascistas de Hitler e Mussolini, na II Guerra Mundial, até à sua derrota militar.
A mais brutal expressão da violência repressiva da ditadura, nesta época, foi a abertura do Campo de Concentração do Tarrafal, na ilha de Santiago, em Cabo Verde, a milhares de quilómetros de Portugal, pelo Decreto-Lei n.º 26 539, de 23 de Abril de 1936. No Tarrafal os presos eram submetidos a um regime de morte lenta - por isso ficou conhecido como o «Campo da Morte Lenta». Os maus tratos e a má alimentação, as doenças sem tratamento e o clima, numa das mais insalubres regiões de Cabo Verde, mataram 32 dos portugueses que para lá foram deportados. Nas primeiras levas de prisioneiros enviados para o Tarrafal encontravam-se muitos dos participantes nas greves do 18 de Janeiro de 1934 e da revolta dos marinheiros de Setembro de 1936, na sua grande maioria comunistas, mas também outros antifascistas, sindicalistas e anarquistas".
Após o fim da II GM e a derrocata dos regimes totalitaristas na Europa, o Campo do Tarrafal foi fechado em 1954. Em 1961 foi reaberto numa nova onda de repressão portuguesa: sob a denominação de Campo do Chão Bom, passou a receber prisioneiros oriundos das guerras de libertação das colônias portuguesas.
Eu visitei o campo nos dois últimos fins de semana. Sendo filha de quem eu sou, desde cedo fui convidada a não passar desapercebida pelas desigualdades, humilhações e torturas impetradas pelos seres humanos, uns aos outros. Não podia ir embora de Cabo Verde sem conhecer o campo de concentração aqui implantado. Aqui não haviam câmaras de gás, como nos campos de concentração de Hitler, mas sim, o que mais me afligiu a alma ao saber. A famosa frigideira:
«A frigideira era uma caixa de cimento, construída perto do aquartelamento dos soldados angolanos. Tinha uma forma rectangular. O tecto era uma espessa placa de betão. Uma parede dividia-a interiormente em duas celas quase quadradas. Tinha cada uma delas a sua porta de ferro, perfurada em baixo com cinco orifícios onde mal se podia enfiar um dedo. Por cima, junto ao tecto, havia um postigo gradeado em forma de meia lua com menos de cinquenta centímetros de largura por uns trinta de altura. Estava exposta ao sol de manhã à noite. Lá dentro era um forno. Aquela prisão merecia o nome que os presos lhe davam: a frigideira. O sol batia na porta de ferro e o calor ia-se tornando sempre mais difícil de suportar. Íamos tirando a roupa, mas o suor corria incessantemente. A frigideira teria capacidade para dois ou três presos por cela. Chegámos a ser doze numa área de nove metros quadrados. A luz e o ar entravam com muita dificuldade pelos buracos na porta e em cima pela abertura junto ao tecto. Quatro passos era o percurso de uma parede a outra. Dentro havia uma constante penumbra.»
Durante a visita, nos é permitido visitar os diversos pavilhões que separavam os presos por nacionalidade. Tinha o pavilhão dos angolanos, dos cabo verdeanos, dos guineenses. Hoje esses pavilhões abrigam fotografias dos sobreviventes, com um pequeno depoimento. Assim, recentemente o campo foi transformado em um museu. Recentemente também foi lançado um documentário longa metragem (infelizmente a qualidade é muito baixa). Acho importante que a história seja documentada e disseminada e com este post, espero estar contribuindo para disseminar a informação.
Aqui há um vídeo muito legal mostrando o ato da independência de Cabo Verde. Eu não sei fazer o negócio bonitinho, mas clicando abaixo você deve ser direcionado à página:
http://www.youtube.com/watch?v=pCuLF458_gs&eurl=http%3A%2F%2Fwww%2Egoverno%2Ecv%2Findex%2Ephp%3Fid%3D329%26option%3Dcom%5Fcontent%26task%3Dview&feature=player_embedded
Outras atividades recentes relativas ao campo:
Um simpósio internacional para marcar os 35 anos de encerramento do campo de concentração do Terrafal, na ilha cabo-verdiana de Santiago, será realizado de 28 de Abril a 1 de Maio neste estabelecimento onde estiveram presos nacionalistas das ex- colónias de Portugal em África..O simpósio, promovido pela Fundação Amílcar Cabral em colaboração com os Ministérios da Cultura de Angola e de Cabo Verde, contará com a participação de antigos presos políticos, intelectuais e investigadores destes dois países, da Guiné-Bissau e de Portugal. (www.africanidade.com)
A video in English on Cape Verdean history:
http://www.youtube.com/watch?v=XZgu-gocaaQ&feature=related
Fontes:
Sítio web do Partido Comunista Português
Wikipedia
Rocha, R.C. O campo de concentração do Tarrafal (1936-1954).
Visitas de terreno (hehehehe)
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