Chegando ao aeroporto, checo as placas para o controle da imigração e fico feliz ao constatar que há uma fila especial para os países da CPLP, bom sinal, penso eu. Não me fazem muitas perguntas, há gente me esperando nas esteiras das bagagens, vejo que há caixas eletrônicos que aceitam visa.
Só que os bons sinais ficam por aí. Aqui começa um dos fins de semana mais loucos da minha vida. O hotel que foi reservado para mim é incrivelmente péssimo- Globo. E olha que eu sou descolada. Na recepção o senhor já falou “vou avisar logo, não tem água quente, nem televisão no quarto, o pequeno almoço só até 8hs da manhã”. Até aí, vamos ver. Quando eu entrei, após deixar o ar condicionado ligado por um tempo, aquele cheiro de queimado no ar, intoxicante. Fui tomar banho, não tinha toalha, após pedir, me deram uma toalha de rosto para me secar. O chuveiro só funcionava com a mangueirinha, e após 5 minutos de banho, ela caiu na minha cabeça, voou água por todos os lados, molhou tudo. Desisti do banho. Isso após uma viagem em que eu saí de casa às 18hs de quinta feira e cheguei no “hotel” às 21hs do dia seguinte.
Mas aí começa a parte cômica da viagem.
It was so tragic in the beginning that it became comic.
Bom, aí resolvi apelar para os meus contatos. Tinha esse chinês, que era amigo de um chinês, que estudou comigo em Israel, que queria me contratar para trabalhar com ele na China, depois em Angola, e que agora estava morando em Luanda. Liguei para ele, ele veio me buscar sábado de manhã no hotel. Já tinham me dito que os hotéis razoáveis giravam em torno de U$ 300, e decidi que por mais que pudesse, não conseguiria pagar isso para dormir uma noite. São os princípios que seguimos na vida e que nos fazem quem somos. Nesse sábado, nessas condições, decidi que não me importava mais, esqueci os princípios. No entanto, rodamos todos e cada um dos hotéis da cidade e nenhum tinha vaga! Em um, o funcionário me confessou que o governo havia reservado todos os quartos dos hotéis da cidade. Na verdade, depois percebi que eles queriam dinheiro, sem as verdinhas nas mãos deles, nada rola.
Bribing, that is the key word in Angola.
Bom, naquelas condições, o chinês ofereceu para eu dormir no complexo residencial dele até segunda. Naquelas condições, eu aceitei. Ele mostrou o meu quarto, eu fiquei amiga das empregadas, estava indo tudo estranhamente bizarro, mas estava indo. Até que o chinês me chama para conversar e fala “temos um problema”, bom, o chefe dele não deixou eu ficar lá. OK, pegamos as malas mais uma vez, colocamos dentro do carro, ele não dirigia, era o amigo dele que não falava uma palavra de qualquer outra língua que dirigia. Sem contar que mesmo o inglês do japonês meu contato é aquele índio, que sempre me faz pensar que o meu não é tão ruim assim.
Do you know when you speak A, someone gets B, you try to speak it again thinking on synonyms, the other person keeps not getting it, you just decide to concentrate in your inner world.
Nisso, as empregadas da casa resolvem me ajudar e saem perguntando na rua de pensões e quartos disponíveis. Acham uma que a entrada fica em um bar, que nesse dia às 10hs da manhã já estava cheio de bêbados, ou ainda cheio de bêbados, não sei. Resolvo continuar procurando. Aí o segurança da casa, liga pro chefe, que liga pro diretor, que resolvem que por uma questão de segurança pública tem que me ajudar. Assim, acabo no escritório da empresa de segurança, que manda um carro com três funcionários uniformizados a rodar comigo os hotéis, até achar um disponível, nem que seja na periferia, disseram eles.
Depois de rodarmos mais ainda um pouco (nisso já eram 14hs, e vocês devem se lembrar que minha última refeição tinha sido no avião, lanchinho da tarde) e finalmente um hotel resolve me hospedar, “mas você tem que sair impreterivelmente segunda feira”, dizem eles. Bom, nisso já são dois dias de teto, agora eu estava numa situação de implorar e barganhar para pagar mais de U$ 200,00 numa noite de hotel, vejam bem.
We had lunch together in the hotel, the Chinese and me. They could not use fork and knife. That is not a judgment towards their culture, as I even think that once you learn, it is easier to use hashi, but just to say how Chinese they are. They are not used to eat outside their home or even with westerns.
Finalmente chego ao meu quarto de hotel, e nesse momento, acho que não pode haver melhor lugar no mundo. Tento conectar na internet para espalhar a notícia da minha nova boa fortuna. Aí lembro que a minha rede wi fi está com problemas desde que tive que reinstalar o Windows graças ao meu bom irmão. OK. Durmo. Acordo e resolvo malhar, olhem só! Vou ao ginásio e as duas esteiras estão ocupadas. OK. Tomo um bom banho de banheira, estilo o furo, maravilha. Aí os chineses chegam de novo. Droga, tinha esquecido que tinha combinado de jantar com eles. Outra coisa que eu posso dizer desses dias, é que passei metade do tempo em terra firme e metade dentro do carro. O tráfico em Luanda é inacreditável, péssimo, inclusive mais inacreditáveis ainda são as filas nos postos de gasolina para o abastecimento. Do meu hotel até o restaurante (claro que chinês) que eles queriam me levar foi 1 hora!! Quando chegamos, eu já estava exausta, mas ainda achei forças para comer todos os mil pratos chineses que eles pediram, de hashi e chá, nos conformes. Aí foi quando eu percebi que o chinês 1 estava começando a se apaixonar...
That is when I realized also that if I was to live in Luanda, I would be addicted to the karaoke room they had in the restaurant. Not even for that the thousand Chinese who live in Cape Verde work!
Depois do jantar, quando eu achei que estávamos rodando uma hora de volta para o meu hotel, descubro que paramos na entrada de uma boate. Já devia ter memorizado o caminho, a essa altura, e com tantas aventuras. Aquela confusão na entrada. Ai eu vi o que é preconceito direto e reto. O gerente apontou para mim no meio da multidão e me colocou para dentro da super boate, de graça. Eu era a única branca. Eu tentei argumentar que os 3 chineses estavam me acompanhando, mas ele não me deu ouvidos. Só respondeu “eles vão entrar, calma!”. Dentro o ambiente é maravilhoso, homens lindos, o mar, boa música. Mas eu não consigo deixar de ser essa menina boazinha, e saí. Vim com os chineses, eles foram legais comigo, eu volto com os chineses. Vamos a outra boate do lado, sem graça, horrível. E aí o chinês foi ficando mais descarado, os amigos dele sempre nos deixam sozinhos de propósito. Droga. Eu saio e pergunto se há como pedir um taxi. Não há taxi na cidade, me respondem. Bicho, qualquer coisa que me deixe em casa. Não há. Volto para dentro, super mal humorada. Juana, como você continua se colocando nessas condições. Droga.
Nessa altura, eu não falo com ninguém e estou de braços cruzados num canto. Que dia! Não vejo a hora de dormir e tudo acabar, penso eu. Aí chega um rapaz e me pergunta se eu sou brasileira. Sim, respondo eu, mas como você sabe? Não tem jeito, é a body language. Eu sou muito brasilianinha, mesmo branquinha. Bom, no final, meus anjos do dia não eram os chineses, mas os brasileiros, que me livraram de um desesperado e me trouxeram sã e salva para o hotel.
E amanhã é um novo dia.
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