sexta-feira, 28 de março de 2008

Ilhas Canárias 1

Vou dividir essa história em algumas sessões, muita coisa a contar!!
Eu já tomei muitas decisões na minha vida, claro. Mas muitas outras coisas que acontecem eu sei que acontecem por outros propósitos maiores do que a vontade do meu ego. A viagem para as Ilhas Canárias foi uma delas. Um dia eu li não sei o que no jornal e anotei na minha nova agenda, na primeira página, que eu decidi naquele momento que seria a página de lugares que eu quero conhecer, o primeiro nome: Tenerife. Outro dia conheci e fiquei amiga de uma pessoa de Tenerife, Paz. Depois ela ficou me ligando para decidir um lugar para passar a semana santa “temos que aproveitar para dar uma escapada da Praia”, ela disse. Outro dia ela ligou e disse: “Olha, estou no aeroporto indo para Fogo, mas queria te dizer que consegui uma passagem super barata para ir para casa na semana santa, anota o mail da minha agente de viagens e vê se ela consegue o mesmo preço para você”. Eu escrevi. A resposta não foi um sim nem não, foi a passagem no meu email, não tive nem escolha.
Saindo de Cabo Verde, algo super simbólico, o oficial da imigração abria o passaporte, passava página 1, 2, 3, 4, fechava, abria de novo, página 1, 2, 3, 4, fechava, na terceira vez perguntou “Você não entrou em Cabo Verde?” Acho que sim, entrei, respondi. O visto está na página marcada pelo meu cartão de residente. Agora sim, ele carimbou a minha saída. Sala de embarque, surpresa, já estão fazendo a fila para embarcar, meu primeiro vôo em Cabo Verde com menos de uma hora de atraso, excepcional, como a viagem que está por vir.
Vôo. Para a minha surpresa descubro que a TACV aluga o avião de uma empresa checa, todos as aeromoças e comissários de bordo são checos, lindos e só falam inglês. Chegamos. Aeroporto grande, o piloto pousa normalmente (não sei se já contei aqui que os pilotos em CV são altamente playboys. A primeira vez que fiz um vôo doméstico ali, pousei no aeroporto de São Vicente, vimos o aeroporto passar “para onde estamos indo?” me perguntei, de repente o piloto faz um cavalinho de pau e para o avião do lado da mini casinha que representa o aeroporto. Um cavalinho de pau com o avião), não há cones demarcando por onde caminhar (demorei uns 2 vôos para sacar que essa era a função do cone, quando tentei fazer um caminho reto da sala de embarque pro avião) e sim um ônibus nos esperando. Imigração. Estava apavorada, espanhóis barrados pra cá, brasileiros barrados pra lá, presidentes no meio da confusão e Juana indo para a Espanha. Juntei todos os documentos que eu li na Folha de SP serem necessários, liguei pro meu amigo de cerveja em CV que trabalha na sessão consular da Embaixada da Espanha, “tranquilita”, ele disse. Apavoradita, estava eu. Enfim, desesperos típicos de Juana, entreguei o passaporte junto com o cartão de identificação das Nações Unidas e não me perguntaram nada, escreveram algo ao lado do meu nome na folhinha e pumba, carimbo.
Canárias, Espanha. Não é tão agradável dizer isso, mas estava sentindo muita falta, digamos, de uma vida urbana a que estou acostumada, afinal quem pensava que ainda existia algum país no mundo sem cinema e Mc Donald´s. Também, ainda no aeroporto, Paz fez uma observação que foi como um golpe no estômago: “Não é bom andar em um lugar e passar desapercebida, sem que todos te olhem pensando que como branca você deve ter muito dinheiro?”. Gente, ao olhar ao redor e realmente perceber que eu sou mais uma ali me fez perceber como essa história de ser minoria racial, discriminação racial, me machuca em Cabo Verde. Todos os dias caminho para o trabalho e escuto pelo menos um par de vezes: “Oh, branquinha, o que você faz aqui?” “Branquinha, me dá dinheiro, vocês já tiraram tudo de nós” “Branquinha, pega um taxi, branquinha”. Branquinha, branquinha…
Chegamos em Lãs Palmas, na ilha de Gran Canária. Já não havia vôo no mesmo dia para Tenerife, mas logo encontramos uma amiga da Paz, comemos sushi (nunca tinha me tocado a obra de arte que é um sushi, uma combinação perfeita de ingredientes, numa perfeita harmonia), delirei, dormimos. Aprecio cada segundo, as grandes avenidas asfaltadas, iluminadas, a coca cola zero (que já não estava tão saborosa, desviciei), os bons jornais, as pessoas andando nas calçadas, os cafés, a comida... ah, a comida...

3 comentários:

Minerinha Mendes disse...

Tó não existe mesmo,queria ter um terço da sua coragem. Minha prima lendo estás suas histórias,estou me transportando para dentro delas, minha imaginação tá indo longe. Beijo grande, cheio de saudades. fica com Deus.

Renée disse...

juanalds... vc é muito do mundo né? tenho novidades...

Unknown disse...

Ju, como assim pilotos playboys? fico aqui tentando imaginar como é fazer cavalo de pau em um avião!!rs
beijos

Postar um comentário